sábado, 20 de novembro de 2010

Mistérios de Lisboa (2010)




Uma crónica maior que as habituais, pois o filme assim o obriga.

Um filme com uma “breve” duração de 4 horas e meia… coisa pouca!! Quando me convidaram para ver o filme pensei que não valeria mesmo a pena, que seria dinheiro gasto em vão e que certamente iria adormecer em plena sala de cinema, face à longa duração do filme e às típicas produções portuguesas baseadas nas novelas dos nossos escritores.

Neste caso o autor era Camilo Castelo Branco e a novela chamava-se “Mistérios de Lisboa” . Um elenco de alguma qualidade no panorama de actores portugueses ainda em início de carreira, contracenando com actores franceses e italianos.

No entanto, quando o filme começou (por volta das 19h30) nem dei pelo tempo a passar… a história era empolgante. A caracterização de todos os personagens, os cenários setecentistas e a delicada linguagem como se comunicavam, fizeram-me transportar no tempo e regressar a 2 séculos atrás… e num “instante” já era meia-noite e estava a terminar o filme.

“Permiti então que vos fale um pouco desta obra que Raúl Ruiz com a sua nobel arte de realizar, nos teve a gentileza de brindar” ;-) … Peculiares personagens marcam este filme:

- Um Jovem (João Luís Arroja) que não sabia quem era o pai e nunca tinha visto a mãe, por isso apenas se chamava João… sem qualquer apelido (José Afonso Pimentel – Pedro em adulto)!!

- Diniz (Adriano Luz)... Cuja vida obrigou um homem a vestir o papel de vários personagens, terminando como o Padre Diniz, pairando sempre o mistério se era realmente um Padre…

- Ângela de Lima…uma Condensa (Maria João Bastos), cujo casamento “arranjado” a conduziu a uma infelicidade extrema e a fizera terminar a sua vida num convento…

- Um misterioso e excêntrico homem de apelido “Come Facas” (Ricardo Pereira), que se transforma de um pobre miserável para um dos mais influentes da nobreza mercantil, temido e respeitado nas cortes da época…

- D. Álvaro de Albuquerque (Carloto Cotta), um jovem playboy da nobreza que cobiça uma mulher casada e foge com ela para Itália em busca da felicidade mas o destino troca-lhe as voltas…

- Elisa de Monfort (Clotilde Hesme), uma mulher obcecada por um homem e com uma enorme sede de vingança, resultante do desprezo amoroso…

São estas histórias que se entrelaçam e nos fazem viajar no tempo até ao século XVIII e perceber a sociedade da altura. Camilo Castelo Branco nesta sua obra, retrata os comportamentos e as realidades de uma sociedade conservadora e senhorial.

A obra prima passa-se em Lisboa, (nos tempos de Marquês de Pombal), em Itália, no Brasil, e em França, (nos tempos de Napoleão). E o poder, ou a ausência dele, levam os mais nobres a constatar que muitas vezes “A esperança da morte é o paraíso dos Infelizes”.

No final fica a dúvida: Mas a cena passou-se realmente ou foi apenas um sonho de João??

Um filme que no estrangeiro é premiado em festivais de cinema espanhóis, brasileiros, canadianos e americanos, é triste que em Portugal apenas seja projectado em alguns cinemas e durante tão pouco tempo.

Talvez a razão seja apenas a longa duração do filme, mas este já está a ser “convertido” para uma mini serie que passará na TV em 6 episódios. Vamos ver o interesse dos portugueses naquilo que é nosso.

Dou por terminada a minha crónica e fico-vos grato, nobres senhores condes e condensas, pelo vosso precioso tempo que haveis dedicado a ler esta minha humilde opinião sobre esta estranha obra de arte a que os modernos chamam de cinema.

Passai bem.

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