quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº15 - Apocalypse Now (1979)


Com este texto, inauguro a rúbrica 'Filmes da minha vida'. Cinco eram poucos, trinta eram talvez demais. Ficámos então pela metade e escolhemos fantásticos quinze filmes que nos marcaram até hoje. Pela mensagem, pelas imagens ou pelos atores. Sobretudo, são filmes que entraram nos nossos espiritos e por cá ficaram.

Número quinze: Apocalypse Now. Uma história de guerra focada no Vietnam. Confesso que não costumo ver filmes de guerra embora tenha gostado de quase todos os que vi. Este, de Francis Ford Coppola, é grande na duração e grandioso no conteúdo. É um filme-viagem. Uma psicadélica e filosófica travessia de um pequeno barco, que serpenteia através de um rio invasor do Vietnam e do Cambodja. Marteen Sheen é o Capitão Willard e o narrador deste filme. Com ele, assistimos às contradições e ironias de uma guerra bélica e politica. Um exemplo refletido no pensamento de Willard: "acusarem alguém de assassinio no Vietnam é o mesmo que multarem um condutor nas corridas de Indianápolis por ter conduzido em excesso de velocidade". A natureza do filme transmite muito bem a confusão e a loucura da guerra do Vietnam. Miúdos que são enviados para uma guerra perdida, oficiais que invadem vilas de civis e matam indiscriminadamente ao som de 'Ride of the Valkyries' de Wagner, o mesmo oficial que surfa as ondas de uma praia em permanente tiroteio, playmates perdidas nos labirintos das mentes de soldados à deriva em plena guerra.
Testemunhando todas estas ações, Willard caminha focado na sua grande missão: eliminar o Coronel Kurtz, um veterano exemplar para o exército americano mas que é agora rotulado de louco e traidor pela sua mãe-pátria. Kurtz, é o exemplo de quem foi completamente transtornado pelas atrocidades, mentiras e ironias vividas numa guerra como esta. Kurtz é hipnótico. A menção do seu nome provoca medo e ao mesmo tempo admiração, para o Capitão Willard e também para mim, como espetador. O Coronel tornou-se num espirito pagão que quebrou os laços com a sociedade e se tornou um virus para o sistema. A sua raiva é tal que a certa altura ele recita a seguinte mensagem contra o seu próprio exército num dos seus poemas: 'treinamos jovens para lançar fogo sobre pessoas mas os seus comandantes não os deixam escrever FODA-SE nos seus aviões porque... é obsceno'. Kurtz está desiludido e considera que pouco tem a fazer neste mundo que agora desdenha.
A banda sonora do filme conta com algumas das grandes bandas e artistas que hoje tanto apreciamos: The Doors, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival ou Jimy Hendrix. É um filme provocador, que questiona a sociedade e a politica como os atores e criadores da guerra, que questiona os valores (ou falta deles) que nela imperam, que questiona os métodos utilizados pelos comandantes no Vietnam. Acima de tudo, o filme não tem problema algum em remexer na consciência e moral do ser humano. Estes são os anos 70, tempos de guerra, tempos de paz, de poesia e de viagens alucinantes.

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