quarta-feira, 23 de maio de 2012

'15 filmes da minha vida' - Nº1 - As Pontes de Madison County (1995)

As Pontes de Madison County ficaram para sempre imortalizadas pelas fotografias de Robert Kincaid (Clint Eastwood). Uma ponte simboliza uma passagem, uma passagem para mais além. Uma estrutura de união e não de separação. Robert Cincaid vive numa realidade nómada. Francesca (Meryl Streep) enraizou-se na terra, na família. O primeiro sonha com unidade, a segunda, sonha com expansão. Mas ambos querem encontrar-se. Os impulsos ditam o decorrer da acção e já nada será como dantes. Mais tarde, perduram fotografias de pontes, de avanços e recuos, de revelações e cumplicidades. Francesca veio de Itália com idade de novata. Na bagagem, o sonho de conhecer o mundo e o amor. Francesca torna-se Francesca Johnson no Iowa, no centro dos Estados Unidos. O cenário é sereno, a vida passa-se a um ritmo tranquilo. A mulher resgatada em Itália tornou-se na mulher mãe, na cuidadora da família. E isto seria perfeito. Ou talvez não. De alguma forma, ela não consegue negar a voz dos seus sonhos e o apelo do espaço amplo que nela habita. O quotidiano decorre até ao dia em que a paixão e o amor a visitam e despertam todo o seu ser. Robert Kincaid é um solitário. Observa a vida à medida que se move. Pertence a tudo para cada vez pertencer mais a ele próprio. Até ao dia em que não aguenta mais. As visões registadas na sua máquina fotográfica e no seu coração têm que ser partilhadas. Porquê? Não se questionam estes anseios quando aparecem. As emoções tomam conta das pessoas e ditam-lhes a acção. É preciso estar lá, não forçar mas estar disponível. A oportunidade está aí. Perante duas pessoas que fazem vidas diferentes mas que se complementam interiormente. A determinada altura do filme, Robert chega a dizer para Francesca: “Nós já não somos duas pessoas mas uma”. Há no ar um reconhecimento que talvez tudo o que foi feito para trás não tenha sido senão afinal, o pretexto para eles se cruzarem na vida, naquele momento, naquele lugar, naqueles dias. O desejo anda de braço dado com o temor. Somos criaturas de corações divididos. Procuramos estabilidade mas também aventura. Temos medo de nos arrepender mas também de arriscar. E vivemos muitas vezes no limbo, na fronteira. Outras, no melhor de dois mundos. Cada caso é um caso e as pessoas baseiam as suas acções naquilo que acreditam mas também naquilo que podem fazer no momento, na hora H. Este é um filme típico do realizador Clint Eastwood. Os temos escolhidos para os seus filmes retractam montanhas de sentimentos e emoções humanas. Locais altos onde convivem vistas deslumbrantes e abismos tremendos.