segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº9 - A Guerra do Fogo (1981)


Seria possível retratar a evolução da espécie humana através de filmes? Se sim, como saberíamos que a história e a imagem corresponderiam ao que realmente se passou? Como credibilizar um filme deste género? A resposta positiva está em “La Guerre du Feu”, um filme franco-canadiano do realizador de cinema de época Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa).
Imaginem como seria a vida dos seres humanos há cerca de 80.000 mil anos. Que aspecto teriam estas pessoas? O que comeriam? Como comunicavam? As teorias comprovadas e por comprovar são-nos dadas pela mão de cientistas, antropólogos, arqueólogos, historiadores e outros. Também este filme nos abre uma janela no tempo e permite-nos que olhemos para uma teoria. Na minha opinião, credível e bem fundamentada. O planeta Terra era habitado por hominídeos sem roupa mas cobertos de pelo, sem abecedário mas com sons para comunicar. O Homem retratado neste filme é o homo sapiens, versão humana que também nos inclui, homens e mulheres do nosso tempo. Somos bem diferentes do que estes nosso antepassados, é certo. Fisicamente, emocionalmente, racionalmente e culturalmente. No entanto, já este Homem, há 80.000, estava capacitado com a possibilidade de aprender factos complexos. Tinha a possibilidade de transformar troncos de madeira em armas letais, pedras em objectos úteis e, a maior novidade da época: a capacidade de produzir e manejar o fogo. A chama que nos aquece e nos alimenta, e que hoje em dia damos como adquirida, era nesta altura, um desejo de sobrevivência e um motivo de competição. “Uma Questão de Fogo” é o título inglês traduzido à letra e na minha opinião expressa bem o que estava em causa nesta época distante. As tribos de homens que o possuíam e conseguiam controlar eram os que tinham mais hipóteses perante a natureza. Neste sentido poder-se-ia dizer: uma questão de fogo, uma questão de vida ou morte.
Este filme está soberbamente bem produzido (recebeu um Óscar pelo design de fatos) e conta com o fantástico desempenho, entre outros, de Everett McGill, Nameer El-Kadi e Ron Perlman (O Nome da Rosa). De alto valor histórico, esta aventura oferece-nos a oportunidade de olharmos para o homem primitivo bem de perto. Somos levados a assistir aos seus comportamentos sociais, aos seus hábitos sexuais, às suas guerras, à caça. Os homens retratados neste filme sonham com o fogo. Eles vão iniciar uma aventura que os vais transformar. A experiência do contacto e da aprendizagem é o elo que liga toda a humanidade e que ajuda a sentirmo-nos um pouco menos sós neste planeta que viaja pelo sistema solar há demasiado tempo para que a nossa razão possa compreender. Gosto de acreditar que o que se passa neste filme poderá ter sido exactamente assim. Porque o que está lá é humano, mesmo que há 80.000 anos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº10 - Beleza Americana (1999)


O trailer sugere-nos que olhemos mais de perto: “Look Closer”. Olhemos e não vejamos apenas. A vida de famílias de classe média americana é exposta no filme Beleza Americana e como se poderá depreender, o título é irónico. As pessoas nesta cidade vivem de forma fria. Vejamos as duas famílias do filme. Mas olhemos mais de perto. Na casa do lado direito vive um ex-coronel das forças armadas americanas de coração duro e de punho rápido. Sob sua alçada há um filho prometido que não cumpre aquilo que se esperava dele… Há ainda uma esposa e mãe, uma velha rainha triste. Na casa do lado esquerdo vive uma mulher de armas. Ela é exigente e bélica. Está ansiosa por chegar em primeiro lugar e não olha a meios para o conseguir. Atrás de si um homem dormente. Entre ambos uma menina desiludida mas com todos os sonhos do mundo.
O filme Beleza Americana podia passar-se noutros lugares do mundo. Muito provavelmente, numa outra urbe anónima ou distante. Não existe humanidade quando respiramos mas não somos capazes de sentir, quando andamos mas não conseguimos rir. Os homens e mulheres são como fortalezas invisíveis que resistem ao calor humano e à empatia, à intimidade e à solidariedade. Há no entanto os que não conseguem viver assim. Existe um longo e difícil caminho entre a superfície e o interior. Entre as aparências e a autenticidade. E por isso muita coisa se vai desconstruir nesta história.
Beleza Americana conta com Kevin Spacey no principal papel. Ele faz de Lester Burnham, o tal homem dormente que um dia resolve começar a arriscar… Lester é também o narrador e grande parte da história é contada sob a sua perspectiva. A propósito, Alan Ball é o argumentista, o senhor que escreveu também uma das séries de que mais aprecio, Sete Palmos de Terra. A banda sonora é um dos pontos altos do filme. Thomas Newman ajuda, e de que maneira, a que as emoções e sentimentos da narrativa sejam transmitidos ainda com mais veracidade.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº13 - O Nome da Rosa (1986)



Baseado num romance de Umberto Eco, “O Nome da Rosa” leva-nos para a idade média. A cena do filme passa-se no século XIV, num convento nos Alpes italianos, e retrata-nos a forma de agir da igreja católica daqueles tempos.

Não há dúvidas que a religião tem, e é uma grande força na sociedade. É, sempre foi e penso que continuará a ser. Mas, como qualquer outra organização, sendo “gerida” pelo Homem, é natural haver erro… a "Santa Inquisição" é um claro exemplo disso.

O conhecimento era um privilégio de apenas alguns, e nem tudo poderia ser lido. Tudo aquilo que pusesse em causa a igreja, ou tivesse alguma linguagem menos leviana, era condenado ou destruído.

A esse convento, onde o hábito e o ritual eram para ser cumpridos e quem não obedecesse era severamente punido, chega o frade franciscano William de Baskerville (Sean Connery). Um frade diferente, mais progressista e “open mind” que começa a pôr em causa certos procedimentos internos do convento e a descobrir o que a tradição não queria mostrar.

Num clima de grande tensão, começam a suceder-se assassinatos e contrariando as regras do convento, o novo frade, juntamente com o seu assistente novato (Adson), envolvem-se no desvendar desses e outros mistérios, descobrindo alguns segredos que põe em perigo algumas pessoas dentro do mosteiro.

O poderio de uma classe social como o Clero, liderado pela “Santa Inquisição”, é no filme, preponderante na tomada de decisões. A fé pretende tapar os olhos da razão e não contrariar a tradição. Desta forma, pobres dementes, como o pobre “Salvatore” (Ron Perlman), acabam por ser injustamente acusados servindo de “bodes expiatórios” para encobrir as verdades inconvenientes.

Com o desenrolar da história, percebemos a forma ortodoxa com que os frades mais ávidos de conhecimento eram proibidos de ler alguns livros e misteriosamente morriam!!

Uma parte do filme, fez-me lembrar a Biblioteca de Alexandria, cujo conhecimento foi todo entregue às chamas… o que seria se todo o conhecimento que a Santa Inquisição destruiu (queimando os livros e os seus autores), ainda existisse? Certamente o mundo estaria mais desenvolvido e avançado.

É também demonstrada como a vocação para ser frade poderia ser posta em causa quando algumas das “tentações” como o amor carnal fossem descobertas, e afinal o caminho daqueles que estavam predestinados a ser frades, podia ser outro.

Um excelente filme!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº14 - Quem Quer ser Bilionário (2008)



O meu "Óscar" de nº14, vai para o filme “Quem quer ser Bilionário” (Slumdog Millionare) de 2008 do realizador Danny Boyle.

Um filme carregado de emoções, em que a vida foi a “professora” de um concorrente num programa televisivo de cultura geral. Essa sua cultura geral era mediana, e tal como o filme nos pergunta no início: “Jamal Malik (Dev Patel), está prestes a ganhar um concurso de televisão, como irá conseguir? A resposta a esta questão é a hipótese “C – É o Destino”.

Uma amizade muito forte entre duas crianças, começa a transformar-se numa relação de amor, mas as injustas circunstâncias da vida nos subúrbios da Índia, acabam por separa-los e levam Jamal a uma demanda incansável por Latika (Freida Pinto).

Cada pergunta colocada pelo apresentador do programa, “transporta” o concorrente para um momento da sua vida! E as suas vivências, ricas em bons e maus momentos, ultrapassam a “ajuda do público”, a “ajuda telefónica”, os “50/50” remetendo para o seu destino essas respostas.

Toda a Índia parou para ver um desconhecido ajudante de contact-center, que atipicamente está prestes a ganhar 20 milhões de Rupias...O suspense, a envolvência e a alegria de toda a Índia que não “descola” da televisão, torcendo pelo humilde concorrente, não eram os mesmos sentimentos desse concorrente, que apenas desejava que Latika visse o programa e soubesse onde o encontrar. O seu desejo não era dinheiro, era amor.

É um filme que nos oferece “retratos” da Índia, dos seus subúrbio, da pobreza, da prostituição, dos tráficos de drogas e crianças… O irmão de Jamal (que também tem um papel muito importante no filme), envereda por outros caminhos que terminam em becos sem saída e que infelizmente representam uma grande “fatia” do país mais populoso do mundo.

Realço a excelente banda sonora! As músicas, transportam-nos para um ambiente algo árabe e oriental, e contribuem para o realismo de uma viagem ao mundo indiano carregado de slumdog´s (cães de favela/bairros de lata), que contrastam com alguns sinais de riqueza do turismo ocidental.

'15 filmes da minha vida' - Nº11 - Gladiador (2000)


“Strenght and hounour”. Força e honra como bandeiras de um homem, de uma legião romana, de um grupo de escravos gladiadores. Gladiador é um filme de época que retrata o império romano por volta do ano 180. A fase da História situa-se nas conquistas do norte da Europa, no reinado de Marco Aurélio e na sucessão polémica de Cómodo, filho do primeiro. Com Marco Aurélio, Roma vivia um período de prosperidade, com Cómodo deu-se inicio a uma fase de declínio civilizacional. Em Gladiador podemos assistir a todo o espectáculo do espírito do império, nomeadamente na magnificência das conquistas expansionistas, na vida social e política e por fim na construção de edifícios grandiosos como o coliseu. É neste magnifico anfiteatro que se passam as decisivas cenas deste filme. Assistimos às lutas de escravos gladiadores, à luta destes com animais exóticos por estas paragens como o tigre e finalmente à maior disputa de todas: entre um homem proveniente da Hispânia, um honroso e forte ex-general do exército romano e Cómodo, um imperador paranóico, vingativo e inseguro.
A história inspira aos grandes valores de vida, à ética, à lealdade e à perseverança. Maximus, representado pelo fabuloso Russel Crowe, é um líder autêntico, tanto na frente de uma batalha com os bárbaros, como liderando um grupo de escravos-gladiadores com poucas perspectivas em relação à vida. Maximus é a tal força e honra, o homem que um dia havia sido o braço direito de Marco Aurélio, pai de Cómodo (Joaquim Phoenix). É esta relação estreita e a perspectiva de poder que motiva o ressentido filho de Marco Aurélio a iniciar uma jornada de vingança e de usurpação pelo que o pai havia construído pelo império.
Gosto muito deste filme que nos cola ao ecrã pela sua intensidade na narração. Um bom exemplo é a tensão vivida entre Cómodo e Lucilla (representada pela bonita Connie Nielsen), a irmã do imperador. Gosto ainda do filme pelas magníficas imagens de Roma clássica conseguidas pelos fantásticos efeitos especiais. Gladiador, do realizador Ridley Scott, é um épico que nos permite visitar o espírito da humanidade neste momento da história, na sua dignidade mas também na sua opulência.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº12 - O Nome da Rosa (1986)


Todos os filmes de qualidade têm uma trama que por si só revela a densidade e o interesse que uma história pode ter para o espectador. Adicionalmente, este tipo de filmes trás consigo o retracto de uma época, ou seja, dizem-nos como as pessoas pensam e como se comportam em determinada época da história.
O Nome da Rosa, um filme de Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery, F. Murray Abraham e Christian Slater (salvo erro, no seu primeiro papel de cinema), é um filme desses, hipnotizante na trama e rigoroso no retracto histórico.
O enredo passa-se num mosteiro da Europa algures no século XIV. Este mosteiro é habitado por monges que reclamam para si toda a higiene moral do mundo, sendo no entanto traídos por muitas das suas acções. As personagens são quase todas estranhas. O aspecto físico é quase sempre deplorável. William of Barkersville (Sean Connery) chega acompanhado ao mosteiro pelo seu protegido (Christian Slatter) e depara-se com um clima obscuro e de desconfiança. Vários crimes ocorrem e William prontifica-se a ajudar a resolver este mistério que interfere na vida no mosteiro. Os modos e mentalidade de William contrastam com a moral e pensamento dos monges residentes. Ele é um humanista e um racionalista tocado pelas forças do amor. Por outro lado os outros monges olham o prazer e a alegria como sendo tentações pecaminosas. É esta perspectiva dualista que influencia todos os acontecimentos que decorrem neste mosteiro escuro, frio e sinistro. A santa inquisição faz também a sua aparição neste filme. Ela é o juiz implacável que varre da superfície da terra todos aqueles que colocam em questão a sua verdade. A verdade de Deus? Que Deus é esse?
Este filme faz a separação entre a verdade de certos homens e a verdade do mundo, da natureza e, porque não dizê-lo de Deus. Talvez Deus seja só um mas ele pode, de certeza, ser aquilo que o Homem queira que ele seja. Para o bem e para o mal, como se vê nesta história.
Gostei imenso do realismo intencional do filme, como atrás referi. Ele é uma fantástica referência à inquisição, à idade média, ao pensamento religioso, à inteligência e ao espírito humanista.