segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº15 - Million Dollar Baby (2004)



Fazer uma lista com “Os filmes da minha vida” não é nada fácil… existem muitos!! Uns marcam mais que outros e quase sempre por razões diferentes. Vou tentar hierarquizar 15 filmes da forma mais justa possível, mas consciente que existe uma ténue fronteira entre todos eles, podendo facilmente oscilar as suas posições.

Começo por atribuir o 15º lugar ao filme “Million Dollar Baby”. Um excelente filme de um excelente realizador/actor. – Clint Eatwood.

O argumento fala da ambição da jovem Maggie (Hilary Swank) em querer ser pugilista. Uma jovem que acredita em si e nas suas potencialidades para atingir os seus objectivo. Mesmo consciente que pouco sabe, acredita em si mesma e nada a faz demover de ser uma lutadora. Essa sua auto-confiança é determinante para ela se vir a tornar numa pugilista profissional Acreditando nela própria consegue atingir os seus objectivos.

Simultaneamente assistimos à condescendência do velho treinador Frankie (Clint Eastwood), experiente, mas sem paciência para novatos, e que “não treina raparigas”. Contrariado, e um pouco por sentimento de piedade, começa a treinar uma rapariga e a aprender a “ganhar” tolerância.

Com os seus conselhos sábios, o treinador vai reforçando confiança da lutadora e esta vai conseguindo vitórias, até que o destino a trava de uma forma cruel e injusta. Com essa “rasteira” a suas lutas deixam de ser nos ringues, passando a ser travadas diariamente com a própria vida.

Um filme que espelha a perseverança de uma jovem consciente que muito tinha aprender para conseguir se sentir bem consigo mesma. Essa enorme ambição pessoal de saber estar num ringue, contrasta numa segunda metade do filme, com a sua força interior de se querer manter viva.

O boxe tinha-se tornado no seu sonho, e a impossibilidade de lutar, faz com que esse sonho seja “amputado”e ponha em causa a sua forma de encarar a vida.

Ambos com famílias ausentes, ao longo do filme a sua relação começa a ir muito para além de profissionalismos. A proximidade entre o mestre e a aprendiz começa a transformar-se em cumplicidade e os 2 personagens vão estabelecendo relações de carinho e amor, próprios de um pai e uma filha.


As dificuldades económicas são ultrapassadas e a família ausente faz questão de se transformar em “presente” . O dinheiro é a varinha de condão que faz a magia de trazer à tona os laços pseudo-familiares e no fundo, reflecte a forma como hoje em dia muitos encaram a família e os amigos.

Perto do final, o filme “traz à baila” um tema polémico… a eutanásia! A forma como a ambição consegue dar um rumo à vida e a falta desta pode retirar o prazer de viver.

Mas o que nos faz perder a ambição? Não existe sempre algo pelo que devemos lutar? Algo que nos mantenha “acesa” a esperança de conseguir melhorar na vida? Ou essa demanda por algo melhor pode morrer dentro de nós?

Com um papel secundário (mas fulcral) no filme, Morgan Freeman relata a história com clareza, calma e alguma tristeza, o que transforma o filme, só por si, num verdadeiro “professor” de vida.

Quando falamos dos nossos objectivos, das nossas relações interpessoais e do sentido que a vida tem, devemos pensar em “Million Dollar Baby”.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº13 - Mystic River (2003)


Há relativamente pouco tempo conheci Clint Eastwood como realizador. Para trás, apenas tinha a imagem do cowboy implacável alternando com o policia indestrutível. Não que eu os conhecesse a fundo, o que se passou foi que eu e Clint Eastwood ainda não tínhamos sido apresentados. Clint é um artista de coração duro mas doce. Cada vez que vejo um dos seus filmes, como o qual que hoje vou falar, é como se sofresse um murro do estômago. Sim, a violência física sente-se depois de ver uma filme como Mystic River.
As histórias de sentimentos são tão válidas para a alegria como para a tristeza. De preferência, as melhores narrativas contêm nelas o bom e o mau da natureza humana, almas que tanto são capazes da vingança como do perdão. Porque ambos os comportamentos são humanos. Mystic River revela momentos de grandeza no mais pequeno gesto intimo como momentos de fragilidade na maior aparente demonstração de força.
A história testemunha as consequências de uma juventude povoada de fantasmas e de traumas. Tim Robbins, faz o papel de um homem atormentado por um abuso sofrido em criança. Um homem que convive com lobos e que nunca deixou completamente a floresta para onde foi enviado em pequeno. Sean Penn e Kevin Bacon dão corpo e alma aos outros dois amigos que haviam brincado juntos em crianças e que pelas circuntancias trágicas da vida se voltariam a encontrar já em adultos. Na atualidade eles já não são os meninos que outrora foram. Agora têm famílias que têm que cuidar, têm relações pelas quais têm de lutar. São os laços de sangue brutalmente quebrados que vão trazer à superfície o que cada um deles carrega no seu interior: as forças, as fraquezas, o desespero e a esperança.
O filme tem um enrendo que pôe a descoberto os seus segredos à medida que o tempo passa. As deixas proferidas pelas personagens são fortes e carregadas de intenção. No registo sonoro existe dramatismo mas também delicadeza. A imagem surge-nos carregada, escura e envolta em mistério.
Mystic River é uma história de crime e sonhos desfeitos. É uma história de amizade e de juventude. De laços ténues e de laços que resistem. Com o Rio Mystic a ver...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº14 - Match Point (2005)


"The man who said: 'i'd rather be lucky than good in life' saw deep in life". O excerto refere-se a uma frase proferida por Chris Wilton, umas das personagens principais de Match Point. Woody Allen é um escritor e um realizador experiente. Faz filmes há décadas e o tema é recorrente: as relações humanas. Não sendo um especialista no autor, li na altura que este filme era de alguma forma uma mudança grande na sua obra. De amores obsessivos e questões existenciais sob a forma de comportamentos neuróticos, Woody Allen apresentáva-nos em 2005 um filme negro, trágico e muito menos divertido do que os anteriores. Diz quem conhece bem o seu trabalho, e eu que conheço alguma coisa, que este filme não deixa de ter qualidade devido à constatação atrás realizada. Antes pelo contrário.
Match Point interessa-me porque nos envolve num enredo onde a natureza humana se despe para nos deixar ver o seu pior e o seu melhor. A história, como o excerto que aqui deixei na primeira linha deste texto testemunha, deambula pelo papel que a sorte tem nas vidas de um ser humano. Usamos a lógica e um código de valores para nos guiarmos no mundo mas muitas vezes é a sorte que define o próximo passo da nossa realidade.
Chris Wilton é um professor de ténis que de forma muito rápida se encontra prestes a entrar no mundo da alta sociedade. Mais do que isso, ele está prestes a entra no circulo de confiança da familia. Ele é subitamente um homem dividido entre o materialismo e o amor. Entre a estabilidade e a paixão. Numa trama complexa, este homem vive um autêntico conflito psicológico. É um mentiroso implacável mas que sabe estar à altura das exigências do mundo à sua volta. Vive ao sabor das paixões e confiando na sorte. Nada é ilegitimo e tudo é possivel. Em última análise ele prefere ter sorte do que ser um homem bom.
Este é um filme imprevisivel e por isso gosto dele. Os homens e as mulheres deste mundo agem muitas vezes por razões que se mantém à tona da realidade mas também muitas vezes por razões que são subterrâneas e muito dificeis de identificar.
A ópera, elegante e trágica, é o acompanhamento musical perfeito para esta história. A nivel visual, o filme tem muito bom gosto na forma como é filmado e os atores são impressionantes.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

'15 filmes da minha vida' - Nº15 - Apocalypse Now (1979)


Com este texto, inauguro a rúbrica 'Filmes da minha vida'. Cinco eram poucos, trinta eram talvez demais. Ficámos então pela metade e escolhemos fantásticos quinze filmes que nos marcaram até hoje. Pela mensagem, pelas imagens ou pelos atores. Sobretudo, são filmes que entraram nos nossos espiritos e por cá ficaram.

Número quinze: Apocalypse Now. Uma história de guerra focada no Vietnam. Confesso que não costumo ver filmes de guerra embora tenha gostado de quase todos os que vi. Este, de Francis Ford Coppola, é grande na duração e grandioso no conteúdo. É um filme-viagem. Uma psicadélica e filosófica travessia de um pequeno barco, que serpenteia através de um rio invasor do Vietnam e do Cambodja. Marteen Sheen é o Capitão Willard e o narrador deste filme. Com ele, assistimos às contradições e ironias de uma guerra bélica e politica. Um exemplo refletido no pensamento de Willard: "acusarem alguém de assassinio no Vietnam é o mesmo que multarem um condutor nas corridas de Indianápolis por ter conduzido em excesso de velocidade". A natureza do filme transmite muito bem a confusão e a loucura da guerra do Vietnam. Miúdos que são enviados para uma guerra perdida, oficiais que invadem vilas de civis e matam indiscriminadamente ao som de 'Ride of the Valkyries' de Wagner, o mesmo oficial que surfa as ondas de uma praia em permanente tiroteio, playmates perdidas nos labirintos das mentes de soldados à deriva em plena guerra.
Testemunhando todas estas ações, Willard caminha focado na sua grande missão: eliminar o Coronel Kurtz, um veterano exemplar para o exército americano mas que é agora rotulado de louco e traidor pela sua mãe-pátria. Kurtz, é o exemplo de quem foi completamente transtornado pelas atrocidades, mentiras e ironias vividas numa guerra como esta. Kurtz é hipnótico. A menção do seu nome provoca medo e ao mesmo tempo admiração, para o Capitão Willard e também para mim, como espetador. O Coronel tornou-se num espirito pagão que quebrou os laços com a sociedade e se tornou um virus para o sistema. A sua raiva é tal que a certa altura ele recita a seguinte mensagem contra o seu próprio exército num dos seus poemas: 'treinamos jovens para lançar fogo sobre pessoas mas os seus comandantes não os deixam escrever FODA-SE nos seus aviões porque... é obsceno'. Kurtz está desiludido e considera que pouco tem a fazer neste mundo que agora desdenha.
A banda sonora do filme conta com algumas das grandes bandas e artistas que hoje tanto apreciamos: The Doors, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival ou Jimy Hendrix. É um filme provocador, que questiona a sociedade e a politica como os atores e criadores da guerra, que questiona os valores (ou falta deles) que nela imperam, que questiona os métodos utilizados pelos comandantes no Vietnam. Acima de tudo, o filme não tem problema algum em remexer na consciência e moral do ser humano. Estes são os anos 70, tempos de guerra, tempos de paz, de poesia e de viagens alucinantes.